A seca é o desastre natural que mais atinge brasileiros. Atualmente mais de 10 milhões de pessoas convivem com os efeitos da estiagem no semiárido
A
cacimba foi cavada em troca de uns quilos de barro. É agora o que
restou de água do reservatório que abastecia a comunidade de Imburama,
no município de Caucaia, Região Metropolitana de Fortaleza. A água, no
entanto, não é de beber. Para o agricultor José Alves, 60 anos, o
líquido escuro serve apenas para os animais – aqueles que a seca ainda
não o obrigou a vender. Caucaia é uma das 179 cidades cearenses que
tiveram o seu estado de emergência decretado neste ano por conta da
seca.
“Esse açude passava o verão todo. Ano
passado ele aguentou e veio secar só nesse verão”, afirma o agricultor.
Agora, para sobreviver, seu José, assim como o resto da comunidade,
compra água de carros-pipa que a vendem pelo preço de R$ 200 a carrada
(cerca de 8 mil litros d’água). O caminhão do exército que costumava
abastecer a comunidade, conta, não aparece há mais de um mês. Na casa
dele, onde também moram a mulher e quatro filhos, uma carrada dura, em
média, 30 dias. A última, comprada em novembro, já está chegando ao fim.
A
experiência, conta, ensinou o agricultor a conviver com o flagelo da
falta d’água. “A gente tem que se acostumar. É o jeito que tem, não
temos para onde ir”, aponta. Apesar de afirmar já ter passado por secas
piores – a de 1981, lembra, secou toda a água da região –, teme pelo
cenário que um inverno ruim pode vir a desenhar. “Se chove, a gente
planta. Se não, não sei como vai ser”.
No Ceará
No
Brasil, de acordo com o último Anuário Brasileiro de Desastres
Naturais, a seca foi o desastre natural com mais pessoas atingidas em
2012. Ao todo, foram 8,9 milhões de afetados, além de 750 desalojados,
30 desabrigados, 14.214 enfermos e seis mortos. No Ceará, de acordo com
dados do Ministério da Integração, a seca afeta cerca de 1,9 milhões. “A
maioria da população entende desastre como algo mais catastrófico. Mas a
seca é um desastre. E muito sério”, afirma a professora do departamento
de Geografia da
Universidade Federal do Ceará (UFC), Eliza Zanella.
Segundo
a professora, que conduziu uma pesquisa sobre os desastres naturais
registrados em território cearense entre os anos de 2003 e 2011, as
principais catástrofes que atingem o Estado estão relacionadas a
fenômenos hidrológicos, sendo a seca a pior delas. No período estudado
por Eliza, as estiagens foram responsáveis por 1.035 decretos de estado
de emergência e um estado de calamidade pública, afetando 90,7% dos
municípios cearenses. “Os desastres aqui vão acontecer pela falta d’água
ou pelo excesso dela. São os dois extremos. A diferença é que a seca
não é repentina, como uma inundação. Mas, lá no final, você vai ver os
prejuízos. A seca também mata”, conclui. (Liana Costa)
Fonte O Povo via: Ceará portal de noticias.
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